Pele Negra, Máscaras Brancas no Teatro do Goethe até 13 de outubro

O espetáculo Pele Negra, Máscaras Brancas –  continua em temporada no Teatro do Goethe Institut, no Corredor da Vitória, até 13 de outubro, com apresentações de quinta a sábado, às 19h, e domingo, às 18h. A montagem, que tem dramaturgia de Aldri Anunciação, é a primeira da Cia de Teatro da Universidade Federal da Bahia encenada por uma diretora negra, Onisajé (Fernanda Júlia).
Para Onisajé, “as temporadas no Teatro Castro Alves (TCA) – em que se esgotou duas sessões, com mais de 3 mil espectadores -, no Espaço Cultural da Barroquinha e no Teatro do Goethe Institut coloca o espetáculo em circuito comercial, pois antes tínhamos feito sessões gratuitas no Teatro Martim Gonçalves (TMG). Não sabíamos como seria o alcance e está sendo um sucesso, com sessões esgotadas, o que mostra a qualidade do espetáculo e a força da representativa étnico-racial da obra”.
A respeito da forma que a mudança dos espaços tem interferido na montagem, a diretora pontua que tem revelado entendimentos mais ampliados a respeito da obra. “O teatro é vivo e a mudança dos espaços deixa a obra mais viva ainda, principalmente, no trabalho dos atuantes e impede que o espetáculo caia em uma mecanização. Esse rito vai provocando novas descobertas. Iluminação e coreografia precisaram ser modificada e isso revelou camadas que não tínhamos acessado”, realça.
“Quando saímos do TMG e fomos para o TCA cenas precisaram ser repensadas. Tínhamos uma divisão no TMG em que os atores usavam a plateia como palco. No TCA, não foi possível. Isso gerou mudanças significativas, que ampliaram conceitos de cena. A cena de Fanon com a banca examinadora deixou de ter uma relação frontal para ter um disposição de troca de níveis, reforçando a narrativa do espetáculo. Acredito que o Goethe, pela plateia está bem mais próxima, colocará os atuantes em um jogo mais intenso”, conta Onisajé.
Com produção da DA GENTE Produções, Pele Negra, Máscaras Brancas é baseado em tese homônima de Frantz Fanon e tem referências de “Os Condenados da Terra”, outra obra do autor. O primeiro livro apresenta a ferida da subjetividade negra; o segundo traz uma proposta de ação sobre essa subjetividade falhada ou estragada do negro pela colonialidade.
Valendo-se de quase todas teorias Fanon, Aldri Anunciação ainda traz personagens analisadas e criadas pelo próprio psiquiatra e filósofo. A montagem perpassar três períodos – 1950, 2019 e 2888 -, presente, passado e futuro para falar sobre como o processo de colonização construiu sofrimentos psicológicos em corpos negros.
O espetáculo Pele Negra, Máscaras Brancas traz o próprio Frantz Fanon como personagem no ano de 2019 defendendo novamente sua tese de doutorado, rejeitada pela banca examinadora no ano de 1950. Dois artistas interpretam esta personagem, Victor Edvani – ator preto e cisgênero – e Matheuzza Xavier – atriz, transgênera e preta.
Em meio a defesa, Fanon apresenta seis personagens-tese que vivem em 2888. Nesse tempo-espaço, essas personagens desenvolvem as perspectivas ocidentalizadas de futuro para o negro. Integrantes de uma mesma família, essas personagens acabam enclausuradas em uma casa devido a Taiwo, filha do casal infectada pela “náusea do desejo de saber-ser” que ultrapassou os limites impostos pelo “Regime Único Mundial”.
Assim como Taiwo outras personagens da sua família já tinham sido infectadas em outros momentos pela “náusea do desejo de saber-ser” e invadiram a velha biblioteca que possui informações a respeito do processo africano pré-colonial. Manter esses livros/informações distante do povo negro, que foi colonizado e vem tendo sua memória escondida e apagada, é uma forma de controle sob os seus corpos.
Com codireção de Licko Turle, professor visitante da UNIRIO, a encenação traz um elenco totalmente negro formado por dez atuantes: Iago Gonçalves, Igor Nascimento, Juliette Nascimento, Manu Moraes, Matheus Cardoso, Matheuzza Xavier, Rafaella Tuxá, Thallia Figueiredo, Victor Edvani e Wellington Lima. A coreógrafa Edileusa dos Santos é a responsável pela direção de movimento e preparação corporal.
Ao trazer uma equipe formado por artistas pretos e pretas, Pele Negra, Máscaras Brancas torna-se um projeto politico-racial ao ampliar às narrativas da Cia de Teatro da UFBA. O espetáculo é uma conquista da segunda edição do Fórum Negro de Arte e Cultura – FNAC, em 2018, realizado pela Escola de Teatro e Pró-Reitoria de Extensão da UFBA.
Serviço
O quê: Pele Negra, Máscaras Brancas – com direção de Onisajé
Quando: 03, 04, 05, 06, 10, 11, 12 e 13 de outubro – quinta a sábado, às 19h, domingo, 18h
Onde: Teatro do Goethe Institut – Corredor da Vitória
Quanto: R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia)
* Vendas antecipadas no site www.sympla.com/dagenteproducoes

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