Medicina diagnóstica com mais precisão e agilidade são fundamentais em casos de resistência antimicrobiana

Métodos de identificação microbiana como o Maldi-Tof viabilizam análises em 2 minutos, e são grandes aliados no atendimento a imunocomprometidos (pacientes em UTI e transplantados).

Dentre os desafios atuais da medicina especializada está a identificação precoce de microrganismo causadores de infecção. Quanto mais precoce a identificação de uma bactéria ou fungo causador de infecção, mais adequada a terapia antimicrobiana e melhor o desfecho clínico. Além disso, vivemos nas últimas décadas, um crescimento importante da resistência antimicrobiana, o que desencadeou estratégias globais de controle. Isto ocorre quando bactérias, fungos, vírus e parasitas se tornam resistentes aos agentes terapêuticos recomendados, dificultando o tratamento das infecções e gerando desfechos desfavoráveis. Estima-se que mais de 1,2 milhão de pessoas no mundo morreram devido a infecções resistentes a medicamentos no ano de 2019. Esse problema pode chegar a 10 milhões de pessoas, até 2050, um cenário bastante desafiador para as instituições governamentais e para os serviços de saúde no mundo inteiro.

 

A identificação precoce dos microrganismos e da sua susceptibilidade aos antimicrobianos se faz essencial para nortear o tratamento adequado e obter os melhores resultados, especialmente em pacientes com infecções graves ou com deficiência imunitária. Foi pensando nisso que em 2012, Dra Ana Verena Almeida Mendes, MD. PhD em Infectologia pela USP e Diretora Médica do Hospital São Rafael, criou o Núcleo Integrado de Infectologia – Microbiologia e Controle de Infecção Hospitalar.  Este núcleo passou a ser responsável por todas as etapas do diagnóstico, auditoria e tratamento das infecções com foco em agilidade, adequação e desfecho. 

Dentro deste projeto, o Hospital adquiriu o Maldi-Tof, um aparelho que usa uma tecnologia inovadora de identificação de micro-organismos (bactérias e fungos) por espectrometria de massa e que permite a identificação destes microrganismos em até 2 minutos. Para coordenar a etapa diagnóstica, Dra Maria Goreth Barberino, PhD em Ciências pela FIOCRUZ, assumiu o setor de Microbiologia Clínica do Hospital São Rafael Rede D’Or. A especialista explica que a resistência a antibióticos se deve a múltiplos fatores, muitos deles sem controle. “Estamos em contato com antibióticos presentes nos alimentos, na má decisão de tomar remédios por conta própria, por exemplo, e isso faz com que nosso organismo desenvolva resistência a determinados medicamentos. Quando trazemos isso para o cenário hospitalar é desafiador”, avalia a especialista, que também destaca a importância do Maldi-Tof e das novas ferramentas de diagnóstico microbiológico capazes de permitir a tomada de decisão sobre o tratamento baseada em evidências mais precisas e em menor tempo. Estas ferramentas hoje são essenciais para nortear o tratamento, em especial de casos graves de Sepse. 

“Os métodos clássicos, utilizados pela maioria dos laboratórios, dependem de diferentes testes bioquímicos que podem levar mais de 48h para se ter resultados. Em contrapartida, quando utilizamos o Maldi-Tof, por exemplo, que me permite a identificação de diferentes microrganismos envolvidos em infecções que acometem pacientes críticos, especialmente infecções de corrente sanguínea considerada uma infecção muito grave e de alta mortalidade, e conseguimos liberar um resultado em um intervalo de tempo que pode ir de 2 minutos até, no máximo, 2 horas, isso gera um ganho nas decisões terapêuticas no paciente, que pode ser decisivo, salvar vidas, especialmente no atendimento a pacientes imunocomprometidos, como os que estão em UTI, que apresentam septicemia (infecção generalizada) ou são transplantados”, reforça Barberino. 

Hematologista e coordenador do serviço de transplante de medula óssea e terapia celular (TMO) do HSR Rede D’Or, Dr. Tiago de Freitas ressalta a importância de uma microbiologia avançada no tratamento de infecções em imunocomprometidos transplantados. “As infecções são nossas principais rivais, nossa batalha diária, um inimigo muitas vezes, oculto, mas que ameaça diretamente a taxa de sucesso do transplante e, por conseguinte, a sobrevida desses pacientes, tão complexos e tão frágeis ao mesmo tempo. Ter na mão, em tempo hábil, a identificação precisa, literalmente o nome e o sobrenome da bactéria, do fungo, ou seja lá qual for o agente que está por trás daquela infecção, nos permite uma série de reações em cadeia, por exemplo, guiar a terapia antibiótica, adequar a dose e a duração do tratamento, simplificar a combinação, evitar a seleção de novas cepas multirresistentes, e, assim, melhorar os desfechos clínicos”, avalia o médico. 

Estudos sobre o uso do Maldi-Tof para identificação rápida de microrganismos envolvidos em diferentes infecções que acometem pacientes imunocomprometidos ou gravemente enfermos demonstram o seu impacto na terapia antimicrobiana, podendo levar a ajustes destas terapias em até 20%, diminuindo morbidade e mortalidade. “O uso dessa tecnologia permite a identificação rápida e acurada de diferentes tipos de microrganismos que estão envolvidos nas infecções de corrente sanguínea. A evolução destas infecções para sepse é uma emergência médica e a terapia adequada nas primeiras horas aumenta as taxas de sobrevida em até 80%. Cada hora de atraso na escolha mais assertiva do esquema antimicrobiano resulta em um aumento importante na mortalidade dos pacientes”, acrescenta o infectologista Dr. Marcio de Oliveira, atuante no Hospital São Rafael. 

“A aplicação desta metodologia não apenas impacta o diagnóstico de infecções bacterianas, mas também agiliza a detecção dos fungos associados a infecções fúngicas invasivas. Essas complicações são frequentes em pacientes imunossuprimidos, submetidos a terapias para doenças autoimunes, com malignidades hematológicas ou que passaram por transplantes de medula óssea e órgãos sólidos, consideradas situações de alto risco. A incorporação dessa abordagem otimiza a terapia antifúngica, aumentando as perspectivas de um desfecho clínico bem-sucedido para esses pacientes”, destaca a médica intensivista, Dra. Fernanda Sampaio, supervisora de UTI. 

Desta forma, ressalta a Dra Ana Verena que “a presença de um serviço integrado de Microbiologia, Infecto e CCIH, contribui efetivamente para o sucesso no tratamento da sepse e das infecções por microrganismos multi-resistentes”. O setor de Microbiologia da Rede D’Or conta com aplicação de Maldi-Tof em suas unidades de assistência médica em Salvador (Hospitais Aliança, Cárdio Pulmonar e São Rafael) e Lauro de Freitas (Hospital Aeroporto).