*Leonardo Torres
“Deus sonhou o homem, o homem sonhou a máquina e a máquina sonha Deus”, frase do pensador Dietmar Kamper. Esta frase nunca foi tão atual. Hoje, todos os dias, somos bombardeados de notícias sobre os avanços da tecnologia e, na maioria das vezes, não paramos para nos perguntar sobre suas consequências.
As tecnologias de vigilância estão cada vez mais avançadas. Hoje, alguns metrôs pelo mundo já conseguem identificar cada cidadão. Mas não é somente nas cidades. As redes sociais sabem tudo. Somos vigiados das ruas às redes. Os nossos aparatos gravam tudo: textos, áudios, etc. Você por acaso já leu os termos de uso das redes sociais que utiliza?
A quantidade de dados que tais empresas recebem de nós é gigantesca. Esses dados viram informações para as mais elaboradas estratégias de marketing. No fim, trabalhamos para tais máquinas e entregamos nossos dados para elas nos venderem coisas. Mark Zuckerberg nos conhece melhor do que nossas próprias mães, afinal, ele é dono de pelo menos três redes sociais superfamosas do mundo.
Além disso, as inteligências artificiais estão cada vez mais desenvolvidas. Com a vigilância, elas aprendem cada vez mais sobre nós e nossas profissões, sobre o que fazemos e como fazemos. Yuval Noah Harari afirma que até 2050 muitas profissões irão se extinguir. Muitos setores serão automatizados.
A tecnologia tem nos distanciado. A depressão, o suicídio e as redes sociais estão mais ligados do que imaginamos. Paralelamente ao desenvolvimento dos computadores e da internet, a taxa de suicídio no mundo aumentou cerca de 60%, segundo a OMS. No ritmo do pensamento de Yuval, que haverá uma grande mudança social nos próximos anos, acredito que o setor que mais deva evoluir, não visando o mercado, mas por necessidade social, é o da Psicologia.
O sentido de vida foi perdido e deve ser retomado. Os remédios não darão conta do vazio da alma humana. Sem uma inteligência emocional e uma saúde psíquica, estaremos fadados no mínimo às histerias coletivas, no máximo à extinção. E as redes sociais têm corroborado muito com
esse prognóstico.
O fato é que, se a máquina está nas ruas e nas redes, presa aos nossos corpos com os aparelhos de última geração, registrando para o bem ou para o mal até nossos batimentos cardíacos, ela tende para a onisciência, onipresença e onipotência. Com certeza, sonha ser Deus.
*Leonardo Torres, 28 anos, Palestrante, Professor e Doutorando em Comunicação e Cultura Midiática.