Distúrbio hormonal mais frequente no sexo feminino, a Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) atinge cerca de 10% das mulheres em idade reprodutiva. A Síndrome é caracterizada pela presença de microcistos de material liquido ou semi-sólido no ovário, produção excessiva de hormônios masculinos (principalmente testosterona) pelo organismo e pela falta de ovulação ou ciclos ovulatórios irregulares. “A paciente acometida pela Síndrome tem o ciclo menstrual irregular ou, muitas vezes, nem menstrua”, explica o ginecologista Jorge Valente, diretor médico do CEPARH (Centro de Pesquisa e Assistência em Reprodução Humana). Em alguns casos, há pacientes que também apresentam sangramento vaginal aumentado (hemorragia uterina).
“Ter ovários policísticos ou ter cistos no ovário não significa ter a Síndrome. Nem todas as mulheres com ovários policísticos apresentam a Síndrome, que é caracterizada quando além dos ovários policísticos, a paciente apresenta aumento da produção de hormônios masculinos e anovulação”, explica o especialista. Ele lembra que 25% das mulheres que possuem ovários policísticos não apresentam a Síndrome.
Dentre os fatores de risco para desenvolvimento da Síndrome, estão o histórico familiar, a obesidade e a resistência à insulina.
Sintomas e complicações – Ganho de peso, ciclos menstruais irregulares, dificuldade para engravidar, aumento da oleosidade da pele, acne, excesso de pelos (hirsutismo) em regiões como rosto, seios e abdômen e queda de cabelo são alguns dos sintomas da Síndrome. Além de favorecer à obesidade, o distúrbio aumenta o risco de desenvolver diabetes, doenças cardiovasculares, infertilidade e câncer do endométrio.
Cerca de 50% das mulheres acometidas pelo distúrbio sofrem com sobrepeso ou obesidade, e, por sua vez, o aumento de peso agrava a Síndrome. O desequilíbrio hormonal causado pela síndrome costuma desencadear a obesidade e o excesso de peso, por consequência, piora o distúrbio dos hormônios. O ganho de peso é um sintoma e, ao mesmo tempo, uma causa.
Fator hereditário e resistência insulínica – A Síndrome tem forte componente hereditário. O risco de desenvolver a SOP aumenta em mulheres que têm mães diagnosticadas com a Síndrome. “O risco também aumenta em pacientes com herança diabética ou que sofrem de obesidade ou sobrepeso”, explica Jorge Valente.
Mulheres com ovários policísticos têm risco aumentado para desenvolver diabetes tipo 2 porque apresentam maior resistência insulínica. A insulina é um hormônio,sintetizado no pâncreas, responsável pela redução taxa de glicose (açúcar) no sangue, ao promover a entrada de glicose nas células. O hormônio também tem uma função essencial para armazenamento de lípidos (gorduras).
Como essas pacientes apresentam maior resistência, é preciso que o organismo produza mais insulina para absorver a mesma quantidade de glicose. “O corpo é estimulado a produzir mais insulina, pois as células não conseguem absorver glicose para transformar em energia”, explica Jorge Valente. Essa resistência acaba determinando também a produção excessiva de hormônios masculinos e o acúmulo de gordura lateral e culotes. Como a paciente com resistência insulínica tem mais dificuldade para colocar a glicose dentro da célula, a pessoa sente mais fome e mais vontade de comer doce, o que também contribui com o quadro de ganho de peso.
Diagnóstico e tratamento – Além do exame clinico, o diagnóstico da Síndrome é feito através de exame de imagem (ultrassom transvaginal) e laboratorial e seu tratamento deve ser sintomático e individualizado, de acordo com o quadro da paciente e com o perfil dela. “No caso das pacientes com sobrepeso ou obesidade, a perda dos quilos em excesso através da adoção de uma alimentação saudável e de atividade física regular é fundamental na correção desse distúrbio e de todas as implicações na sua saúde”, lembra Jorge Valente.
Controle – De acordo com o médico Jorge Valente, manter-se no peso adequado, ter uma alimentação saudável e praticar atividade física são hábitos que favorecem o controle da Síndrome, que tem caráter crônico, mas pode ter seus sintomas revertidos. “Mudar o estilo de vida pode reverter o quadro do distúrbio e das suas complicações,” acrescenta.