Sala de Visitas por Ed Vasco

Ofereça sempre um café ou uma água. Esta é a frase que mainha ensinou quando receber alguém em nossa casa, não importa se é o presidente da República, o entregador do gás ou se gosto ou não dessa visita. Trate-as bem. Ponto. Trate-as bem, pois, segundo minha mãe, se está em nossa casa, deve- se tratar bem quem quer que seja. Infelizmente a gentileza em receber as pessoas nas casas não é mais prática. É agora uma exceção.

Quando criança, confesso que cometi muitas grosserias com as visitas de meus pais, tipo: me esconder, negar beijos e abraços ou me recusar a buscar alguma coisa ou algo – adulto tem a mania de pedir “favores” às crianças. Após as visitas irem embora, era rapidamente chamado a atenção.

Sabe a sala de visita? Sim, aquela da casa de nossa voinha, enorme, linda e onde ficávamos indagando qual era sua serventia? Pois, foi feita não só para impressionar quem as visitava. Era também uma forma de agrado e do bem receber. Lembre-se que na casa de voinha estas salas de visitas eram proibidas para as crianças, que nunca – eu disse nunca – poderiam entrar nela, sob o risco de arranhar os móveis, estragar o tapete, colocar chiclete embaixo da poltrona e outras criancices que só criança (e alguns adultos) sabem fazer. Bons tempos aqueles que voinha sabia receber… Sei que as casas se tornaram menores, que a sala de visitas se tornou um cômodo incômodo, mas custa oferecer um café e um copo d’água ou deixar a sala de estar/ tv um pouquinho mais arrumadinha?

Infelizmente só consigo ver educação de verdade no ato de receber com os mais velhos. Minha geração mesmo é um horror para receber visitas. Detesto quem recebe visita com jeito low profile – tipo você já é da casa –, e quanto maior a renda econômica da minha geração, menos se sabe receber quem adentra a sua casa. Talvez o dinheiro deixe as pessoas mal educadas né? Digo isso pelos meus amigos. Se nasceu sem precisar forrar uma cama pela manhã e que ao sentar-se à mesa seu copo de todynho tava lá prontinho, tenham certeza que é este o dialogo:

-Amigo você quer alguma coisa?

-Não obrigado.

E não insistem nessa “alguma coisa”. Isso sem falar que, a todo instante, conferem o celular. Se eu não fosse muito bem, a minha análise (cinco anos ininterruptos, quer dizer, algumas vezes me dei alta, mas volto rapidinho, preciso me analisar sempre) ia cometer uma haraquiri, pois fica parecendo que nossa presença e conversa é mais chata que o Faustão.

“Ô seu filho da mãe não aceito “alguma coisa”. Aceito ou não, se você me oferecer, água, café, chá ou uma bolacha água e sal fora do pacote há 03 dias!” Enfim geração do todynho pronto…

Mas se for de uma geração superior à nossa… conseguem carregar água no cesto pras visitas. Fui recentemente fazer uma visita profissional a um casal. Ele com noventa e tralálá, e ela, com seus oitenta e cacetada, destes casais que olhamos e vemos que chuparam a vida de canudinho sugando dela o melhor. Isso quer dizer que chegaram à velhice com muito bom humor. Em toda a minha vida profissional nunca fui tão bem recebido, eu e minha equipe medindo a casa deles, chega à secretária e diz: “Por favor, os senhores me acompanhem, que senhora sicrana  os está aguardando para o lanche”. “What???? Como assim lanche? É com a gente mesmo, moça?”. Era! Olha… bolo caseiro, café de coador (desenvolvi repulsa por café expresso, vai entender…) e uma conversa – digo conversa, pois a geração deles não papeiam, conversam, com firmeza, sem querer ser o centro do universo e ESCUTANDO o outro, porque estou de saco cheio de gente que só fala e não escuta.

Mas pior que receber mal é visitar mal. Como tem gente mal educada no mundo.

Regra número um: cachorros, crianças menores de dezoito anos (a não ser que o dono da casa as convide, se você ligar avisando e ele disser sim, mesmo assim não leve), adultocentes – crianças em formas de adultos – estão proibidos de serem chamados de visitas, são terroristas, da pior espécie. Me mata quando alguém leva um cachorro pra minha casa. Amo cães, odeio o xixi e o cocô deles (pagando minha língua, meu cachorro acha que minha casa é um sanitário enorme e sem regras snif). Gente que não sabe usar banheiro adequadamente (alô, homens) e gente que, ao beber, puxa o freio de mão em uma ladeira com 90º de inclinação. Por favor, não sejam visitas, fiquem quietinhos em suas casas.

Regra dois: Não fale mal de quem te recebeu pelas costas. É feio, deselegante e principalmente desleal.

Regra três: saiba a hora de ir embora. A pior coisa é gente sem medida de tempo. Gente que não sabe a hora de se levantar e ir embora. Isto não se ensina a ninguém. Nasce-se com timing ou não. Tchau, adeus, já deu! Antigamente eu colocava a vassoura atrás da porta pras visitas incômodas. Hoje, basta você desligar o sinal de wi-fi. Como é boa a modernidade…

Regra quatro: deixe que as pessoas sintam saudades de você. Eu às vezes morro de vontade de ir ver alguns amigos, mas sempre me pergunto ou me faço relembrar qual foi à data que fui visitar eles. Se for menos de trinta dias, guardo a saudade no canto esquerdo do peito e vou procurar algum carboidrato pra comer. Carboidratos curam qualquer saudade.

Regra cinco: respeite as opiniões, características, aptidões e pendores de quem você visita. Não fale de futebol, politica, religião, muito menos de dinheiro – me incomoda quem fala em dinheiro – nem de assuntos íntimos de casais. Quem quer saber que a libido de seu marido foi pro espaço após o uso dos antidepressivos?

Regra seis: deixe o dono da casa falar. Quer ser ouvido? Psicólogo, psiquiatra, terapeuta, mãe de santo e taxistas são ótimos ouvidos e são remunerados pra isso.

É, acho que ser visita é mais difícil do que receber… Mas, sendo visita ou visitado, a regra de ouro é: dê o seu melhor, todo mundo tem o seu melhor, até o Donald Trump deve ter o seu melhor atrás daquela pele cor de laranja dele. Tente rir, brincar, se divertir pra quando você levantar e dizer a clássica: tenho que ir, o visitado não responda com outra clássica: é cedo! Deixe que o visitado faça como só os amigos fazem com a gente: pode sentar aí que não conversamos tudo não e você não comeu ainda meu bolo de cenoura com chocolate, com essa sua mania de dieta.

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