*Marcus Borba
Segundo estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA), o câncer de pele é o tipo de tumor maligno que mais acomete a população brasileira: já são mais de 175 mil casos por ano. Nesse contexto, a região mais afetada é a da cabeça e pescoço, por ser a mais exposta à ação dos raios solares.
Como em todos os tipos de câncer, o diagnóstico precoce pode fazer a diferença no tratamento, aumentando as chances de cura. Por isso, é muito importante a conscientização da população quanto aos sinais da doença, assim como informar sobre os diferentes tipos existentes, a exemplo do carcinoma basocelular, carcinoma espinocelular e o melanoma.
Mais frequentes que os demais na cabeça e pescoço, os carcinomas basocelulares (CBC) são tumores derivados da camada basal do epitélio (tecido que reveste a superfície externa e de diversas cavidades internas do organismo). Estão relacionados à exposição solar. A boa notícia é que esse tipo de câncer tem baixíssimo potencial de metástase. Sua agressividade é local e sua principal morbidade está relacionada à invasão de outras estruturas. As lesões têm a cor da pele, sangram com facilidade e apresentam uma espécie de buraco por dentro.
Menos frequente que o basocelular, o carcinoma espinocelular (CEC) representa cerca de 15% dos tumores malignos de pele e é derivado da camada espinhosa do epitélio, com potencial metastático, sobretudo para linfonodos parotídeos e cervicais. Costuma surgir com uma ferida chamada de queratose actínica, em uma fase que ainda não é câncer, mas com grande potencial de se tornar um tumor maligno. É uma lesão que aparece na forma de pele escamosa ou machucado de cor rosa, geralmente na cabeça, pescoço e tronco do corpo. A tendência é que a ferida progrida para pequenos caroços elevados, estabilizados e indolores, com bordas suaves, que aparecem sozinhos ou vários de uma só vez, geralmente com menos de 2 cm de tamanho. Coçam, sangram facilmente e não desaparecem, mas também não crescem.
Já o melanoma, o mais letal entre os cânceres de pele, tem maiores chances de cura se diagnosticado PRECOCEMENTE. Com o passar do tempo e consequente agravamento da doença, as possibilidades de sobrevivência por mais alguns anos são inferiores a 15%. Os sintomas desse tipo de câncer podem ser observados, seguindo o “Esquema ABCDE”: A de assimetria típica da pele (uma parte da ferida não possui o mesmo tamanho da outra, quando deveriam ser iguais); B de borda da lesão, que neste caso é irregular, áspera e dentada; C de cor, que pode se apresentar desigual, em tons de preto, marrom, canela, brancas, cinza, vermelha ou azul; D de diâmetro da lesão, normalmente maior que 6mm; e E de evolução de uma verruga ou caroço que muda de aparência com o passar do tempo.
O melhor caminho continua sendo o da prevenção, evitando a exposição excessiva ao sol e protegendo a pele dos efeitos da radiação UV. Importante ressaltar que o sol tem efeito cumulativo na nossa pele. Isso quer dizer que toda a exposição aos raios solares que ocorre na infância e adolescência pode ser sentida depois dos 40, muitas vezes na forma de um câncer de pele. Por isso, é muito importante a proteção solar durante toda a nossa vida, mas principalmente na faixa etária que vai até os 20 anos, que é quando geralmente passamos mais tempo expostos ao sol. É importante iniciar essa consciência nas nossas crianças desde pequenos, para que se acostumem desde cedo a se proteger e mantenham o uso de filtro solar quando chegarem à adolescência.
Portanto, curta o verão, mas não se esqueça de passar protetor nas áreas descobertas, incluindo o topo dos pés, pescoço, orelhas e couro cabeludo, caso seja careca. Evite se expor ao sol entre 10h e 16h, intervalo em que os raios solares são mais fortes. Caso não seja possível, procure ficar na sombra e proteja-se com roupas com proteção UV, chapéu e óculos escuros.
* Dr. Marcus Borba é especialista em Cirurgia de Cabeça e Pescoço, professor adjunto da Faculdade de Medicina da UFBA e líder da especialidade de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital Português.