Recebo muitas mulheres em consultório, que se queixam da falta de afetividade paterna. As feridas que nascem na alma atormentada por esse dilema deixam marcas que costumam afetar relações amorosas e profissionais.
Fui procurada por uma jovem que dizia não ter nenhuma lembrança boa de sua infância. Muitos filmes e o sofá. Nenhum passeio especial, amigos, carinho. Sua queixa central era não conseguir desenvolver afetividade e o temor da solidão.
Um sonho recorrente a atormentava. Ela acordava sempre assustada, na busca por um caderno florido. Num dos sonhos havia uma declaração de amor ao pai.
Em terapia, uma cena de infância foi revelada. A mulher reviveu momentos de quando era bem pequena e o pai cuidava dela aos finais de semana, enquanto a mãe fazia plantões.
Na cena, ela havia sido castigada severamente pelo pai, por ter desenhado uma flor em uma agenda de trabalho.
O fato de ter sua demonstração de afeto castigada a fez desenvolver uma crença equivocada em relação a toda a sua infância.
Ao reviver a cena, ela foi capaz de compreender que aquele havia sido um fato isolado. Na verdade, o amor do pai sempre esteve presente, talvez não da forma como ela gostaria.
Texto escrito por Daniella Sinotti, psicoterapeuta.