E se a sua imagem estivesse recortada numa cartolina preta decorando os principais pontos turísticos de Salvador? Que lugar você escolheria para imortalizar? Consegue imaginar essa possibilidade? Para quem ama essa cidade – tanto quanto eu – fica difícil escolher. E por que estou fazendo essa pergunta? É para falar sobre o jeito especial de ser do publicitário nascido em Salvador, que usou a sua criatividade e sensibilidade para acrescentar mais poesia às belezas históricas da primeira capital do Brasil. Muito além do axé e do acarajé, a Coluna Gente de hoje é toda dele: Pablo Adler.
Ah, já ia me esquecendo de dizer como eu o conheci. Primeiro, recebi várias postagens do seu trabalho em um aplicativo de mensagens. Fiz vários compartilhamentos e fiquei tão impressionada que hoje estou aqui escrevendo a sua história.
Baiano de Salvador, Pablo Adler Côrtes dos Santos não nasceu; estreou. Filho de pais de classe média dedicou muito tempo aos estudos, ao lazer e ao esporte. Aos 10 anos, já sabia – intuitivamente – que queria fazer publicidade e foi essa a profissão que escolheu para a vida. Ainda na faculdade fez alguns estágios em agências de publicidade de Salvador, mas, logo que se formou aos 22 anos em Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda pela Universidade Católica de Salvador (UCSAL) decidiu ter o seu próprio negócio. Avesso a horários rígidos, comportamento próprio dos criativos, ele nunca quis ser empregado.
Entusiasmado com a ideia de ser o seu próprio chefe, inovou, recortou cartolinas e começou a fazer intervenções artísticas digitais. De que trata exatamente essa técnica? Boa pergunta. Fui pesquisar!
No Brasil, as intervenções urbanas surgiram nos anos 70 como forma de expor a arte além dos museus. O objetivo era levar a arte ao grande público. Já nos anos 90, a atividade ganhou maior projeção, principalmente, com a atuação dos coletivos artísticos.
Usadas para designar os movimentos artísticos nos espaços públicos, as intervenções objetivam alterar o cenário, recriar as paisagens das cidades e transformar o cotidiano em diferentes proporções. As ‘Gordinhas de Ondina’, por exemplo, podem ser consideradas grandes intervenções urbanas. As esculturas, oficialmente chamadas de “As Meninas do Brasil” ficam na Praça Eliana Kertész, mesmo nome da criadora, a artista plástica baiana que morreu em 2017, aos 71 anos.
O monumento criado em 2014, inspirado na música de Moraes Moreira “tem coração democrata e moderna arquitetura”. As três graças do Brasil, Damiana, Mariana e Catarina, representam as raças formadoras do povo brasileiro: a negra, a branca e a índia. O posicionamento delas também é estratégico. Cada uma está voltada para as suas origens: A África, a Europa e o interior do Brasil. Pois é! Intervenção é arte, arte é cultura e cultura é conhecimento. O resultado é o encantamento. A rima é proposital. Tudo isso, junto e misturado, transformou o cenário do bairro. Elas viraram ponto de referência, de tão famosas que ficaram. E não é que Pablo também interviu digitalmente em uma das gordinhas? O resultado ficou genial.
As intervenções criadas por Pablo Adler são chamadas de digitais. Elas estão no campo das possibilidades. Ou seja, não alteram o espaço urbano, mas abrem espaço para a imaginação. Uma das suas principais características é o uso da cartolina preta. O objetivo central é destacar e renovar o cenário. Ao gerar diversas sensações: amor, alegria, entusiasmo renovam o olhar de quem as contempla. A mistura da sensibilidade com o traço e o recorte perfeito aliado ao conhecimento de técnicas artísticas fazem da arte “Adleriana”, uma surpresa nada monótona. Ela é universal e pode ser compreendida em qualquer lugar do mundo por qualquer olhar mais atento.
Depois de conhecer o trabalho de Pablo Adler não foi difícil descobrir porque o número de curtidas e compartilhamentos no seu perfil foi tão grande. Foi assim que ele virou pauta dos principais telejornais baianos. Seu trabalho foi matéria no programa Mosaico e no Jornal Bahia Meio Dia da Rede Bahia; no programa Que Venha o Povo da TV Aratu e no Portal G1 da Globo.
O TOQUE DE MIDAS
As intervenções digitais de Pablo Adler, referência em algumas faculdades de Salvador, foram adotadas pela escola infantil Vila Criar, com o objetivo de aproximar as crianças e os educadores das belezas naturais e dos pontos turísticos de Salvador, de forma lúdica, criativa e prazerosa.
A sua empresa Adler Criativo & Associados tem na gestão os seus vários papéis: o artista digital, o empresário e o influenciador. Formada por um grupo de criativos, a empresa oferece produtos inovadores e serviços diferenciados ao mercado.
As áreas artística e empresarial convergem para o que Pablo mais gosta e sabe fazer: inovar com criatividade. “Meu trabalho é ser criativo, é pensar em novas ideias e soluções. E isso se estende através das artes e dos negócios”, resume.
Adler brinca ao dizer que não é um ser humano, mas está ser humano: “Não gosto quando alguém diz: ‘Eu sou assim’. Não, nós não somos assim; nós estamos assim. Podemos e devemos mudar, evoluir, melhorar, sem perder nossa essência espiritual, que nos faz únicos. A arte sozinha não pode mudar o mundo. A arte é uma ferramenta. O que diferencia uma ferramenta de uma arma é a forma como ela é usada. Um martelo pode ser uma ferramenta de construção, mas em mentes e mãos erradas pode se transformar em uma arma perigosa. Só o homem pode mudar o mundo”.
O EQUILIBRISTA
O publicitário empreendedor, criativo por natureza pode ser interpretado pelo equilibrista na foto acima, uma das suas inusitadas intervenções, postada por ele em 21 de outubro de 2018. Pablo usou o poema de Fernando Sabino para traduzi-lo:
Para o futuro, ele pretende ser conhecido como referência em criatividade; não pelo que ele faz, mas pela emoção que a sua arte provoca nas pessoas. Perguntei sobre os seus planos: “Uma exposição e um projeto, que pretende unir tecnologia e arte; o virtual e o real”, respondeu. O que será que vem por aí (imaginei), mas preferi não perguntar; até porque a arte precisa surpreender.
Ah, antes que eu me esqueça, você conseguiu definir em qual lugar gostaria de intervir? Já pensou em receber um pedido de casamento no teto da Igreja do Senhor do Bonfim, dar um salto com vara no Elevador Lacerda, andar de skate no monumento Clériston Andrade ou pescar em cima do Forte de Santa Maria?
Eu já decidi. Vou ver o pôr do sol no Forte de São Marcelo. Só volto daqui a 15 dias para contar uma nova história.
E aí, Pablo? Gostou da minha montagem? Rindo muito aqui. Aproveito para agradecer e, ao mesmo tempo, pedir licença ao fotógrafo Gustavo Goes por ter usado a sua fotografia; por sinal, maravilhosa, que encontrei no Google.
Vale muito a pena continuar a pesquisa sobre intervenções artísticas. Esse tema é verdadeiramente empolgante. E se você quiser conhecer mais um pouco sobre o publicitário Pablo Adler é só seguir os seus perfis no Instagram.
Siga:
@pabloadler (perfil artístico)
@adlercriativo (perfil business)
Fonte: História das Artes (https://is.gd/hnBNlE)