Com a retomada de alguns serviços, há muita dúvida sobre qual o momento de restabelecer a rotina diária das crianças. A volta às aulas é um dos pontos polêmicos, mas não é a única atividade dos pequenos, que começam a retomar as brincadeiras nas ruas, praças ou playground. A pediatra da S.O.S. Vida Morgana Porto explica que é possível brincar com a garotada em alguns desses espaços, mas preferencialmente sem permitir a interação com outros grupos familiares.
“Estamos todos cansados e certamente as crianças estão sofrendo muito com as medidas de restrições, porém são necessárias para o controle da pandemia. Ainda não é o momento de fraquejar e liberar a brincadeira com outras crianças. É até possível brincar na rua ou no playground, mas mantendo o contato restrito às pessoas que moram na mesma casa. Mas é claro que os casos devem ser avaliados individualmente, pesando riscos e benefícios dos relaxamentos das medidas restritivas”, pondera a especialista, que vai discutir o tema na quarta-feira (23) no Webinar “A Infância e os Desafios na Saúde”. O evento terá a participação das pediatras Rita Mira, coordenadora médica da pediatria do Hospital Santa Izabel (BA) e Danielle Moisés, coordenadora da UTI pediátrica do Hospital São Lucas (SE).
Para Morgana Porto, o convívio não deve ser liberado nem mesmo para crianças mais próximas, como primos ou vizinhos. “O ideal é evitar a interação entre núcleos familiares distintos para conter a transmissão do novo coronavírus”, completa. Ela explica que apesar da sensação de que a pandemia acabou, o Brasil vive um cenário diferente dos demais países, prolongando o período conhecido como platô, ou seja, após alcançar o pico de casos, nessa fase há uma estabilidade nas ocorrências antes de ter uma queda significativa. Os especialistas indicam que a redução das medidas de prevenção nesse período pode levar a uma nova curva de crescimento da transmissão da Covid-19.
Além desse cenário, a associação da síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica (SIM-P) a Covid-19 reforça esse argumento. Apesar de rara, crianças e adolescentes com essa síndrome podem ficar gravemente doentes e até mesmo falecer, como já ocorreu na Bahia. Nesses quadros, pode haver um comprometimento respiratório severo e complicação cardíaca e renal.
Normalmente, a síndrome ocorre após o contágio pelo novo coronavírus. Contudo, como muitas vezes as crianças são assintomáticas, em algumas situações as famílias podem desconhecer que elas tiveram Covid-19. Portanto, o alerta para a síndrome deve ser ligado se a criança tiver sintomas, como febre alta persistente, conjuntivite, lesões de pele, principalmente na boca, pés e mãos, desconforto respiratório e a sensação de cansaço por falência cardíaca. A recomendação é procurar imediatamente atendimento médico para avaliar o quadro clínico.
Apesar do surgimento da síndrome, os casos graves relacionados a Covid-19 nessa faixa etária são considerados baixos. Mesmo assim, os especialistas alertam que a pandemia impactou significativamente as crianças por conta do isolamento, prejudicando os cuidados com a saúde delas. Um dos prejuízos foi a redução das buscas por atendimentos em consultórios e serviços de emergência, descontinuidade vacinal e aumento do sedentarismo e obesidade. “Talvez o maior prejuízo seja no desenvolvimento global das crianças, impactadas pelo afastamento escolar e do convívio social e, em alguns casos, pela experiência de adoecimento e luto na família. Esse é um grande desafio que vamos ter que lidar nos próximos meses em nossa prática”, destaca a pediatra Rita Mira.
Pediatras registram relatos de irritabilidade e estresse na garotada devido à quarentena. A pediatra Morgana Porto explica que apesar das crianças terem facilidade para adaptação a novas rotinas, elas já estão com sinais de sofrimento pelo prolongamento da quarentena, cursando com labilidade emocional e outros problemas psicológicos, além do ganho de peso. As famílias devem seguir atentas à dieta das crianças, priorizando alimentos saudáveis, banhos de sol, brincadeiras, auxílio nas atividades escolares e acolhimento das diversas demandas.
Webinar
O debate será moderado por Fernanda Gama, gerente de relacionamento com o mercado da S.O.S. Vida (BA) e transmitido ao vivo na quarta, 23, às 20 horas, pelo YouTube (youtube.com/sosvida) e Facebook (www.facebook.com/sosvidaoficial).