Por Denisson Palumbo
Impossível falar da festa de São João de forma fria. Se você é do Nordeste, suas lembranças juninas andam quentes, acesas na mente a esta hora. No calor da peste do século, como um cabra respeitador da quarentena, fico em casa com uma fogueira nos olhos. Na falta de um forró, agarro os versos, dançamos. Estamos na festa da “Antologia Baiana de Literatura de Cordel”. Começo a dançar com Cuíca de Santo Amaro: ele, o Tal, fala pra mim sobre “o carnaval da bandalheira”; olho pra trás, encontro Rodolfo Coelho Cavalcante, que me conta, em meio a um dois-pra-lá-dois-pra-cá gostoso, o causo do “Casamento do Macaco com a Onça”: uma história que aconteceu antes da espécie humana existir; enfim, danço com Antônio Ribeiro da Conceição, pergunto como vai Querino e Tomaz, uns valentões, se vivos, sem valentia, ou mortos…com fama de herói. Na festa, infelizmente, encontro apenas uma mulher com quem dançar: Maysa Miranda, ela me fala de Creusa Meira, Salete Maria, Ana Maria de Santana, Carmelita da Silva Teixeira, Lúcia Peltier de Queiroz, Maria Arlinda dos Santos, Vicência Macedo Maia, Sueli Valeriano: mulheres cordelista da Bahia, que na próxima Antologia devem dançar com os homens. No momento, comemoro meu São João do Cordel, que ainda deve acontecer, antes da espécie humana deixar de existir.