*Marcelo Niel
Segundo dados do IBGE divulgados em julho deste ano, o número de desempregados no país atinge atualmente a casa dos 13 milhões, a maior taxa desde 2012. O desemprego e a falta de recursos para prover o sustento mínimo são, sem dúvida, importantes causas de sofrimento e adoecimento mental. Insônia, isolamento e desesperança vão se acumulando e proporcionando o aparecimento de doenças mentais, sobretudo a ansiedade e a depressão.
Um estudo realizado na Inglaterra, em 2013, estimou que mais de 1.100 mortes por ano são causadas pelo desemprego, tanto em decorrência de doenças mentais como pela falta de suporte adequado no sistema de saúde ao desempregado (Möller e cols, 2013). No Brasil, alguns estudos apontam para a gravidade do impacto negativo na vida e na saúde mental de pessoas desempregadas (Barros e Oliveira, 2009).
A tendência, sobretudo nesse período de grande instabilidade política, é que as pessoas se sintam cada vez mais ameaçadas e assombradas com a possibilidade de a miséria voltar a bater na porta dos brasileiros, fato que tem sido identificado nos índices mais recentes, como aponta o IBGE. Essa angústia também induz as pessoas a escolherem governantes autoritários e aparentemente paternalistas, num afã de sentirem-se protegidos. É a tal escolha por um “salvador da pátria”, como se um único governante tivesse, sozinho, a capacidade de resolver todos os problemas de um país tão grande, num mundo de relações tão complexas.
É fato que o crescente desemprego deveria ser uma preocupação primordial para nossos governantes, porque isso impacta direta e muito negativamente nos índices de bem-estar da população, aumentado os problemas de saúde e a violência, uma conta bem mais cara a ser sanada no cenário brasileiro. Infelizmente, não é o que observamos. Vemos de perto o aumento da pobreza, do endividamento e a piora da saúde, com aparecimento cada vez mais frequentes de quadros psiquiátricos associados a esse elevado sofrimento.
Como se não bastasse, vemos o Sistema Único de Saúde cada vez mais bombardeado e desmantelado, dificultando ainda mais o acesso já precário para as pessoas que mais necessitam. Entretanto, mesmo com dificuldades em encontrar atendimento psiquiátrico e suporte psicológico, a pessoa que se encontra nessa situação de precarização da vida pode e deve procurar ajuda. Atualmente, várias iniciativas de organizações não governamentais e grupos de terapeutas desenvolvem projetos sociais em várias partes do país, como o Movimento de Psicanálise de Rua, em São Paulo, através do qual diversas pessoas podem ter acesso a atendimento psicanalítico gratuito numa praça na região central da cidade. Em outros serviços substitutivos, como os centros de convivência, há grupos de apoio e terapêuticos gratuitos em diversas localidades.
Quanto ao desemprego propriamente dito, que muitas vezes não se resolve em curto prazo, um eficiente apoio psicológico pode ajudar as pessoas a desenvolverem estratégias de geração de renda que podem garantir o sustento e a melhoria da qualidade de vida, melhorando, consequentemente o sofrimento psíquico e reestabelecendo pessoas. Em tempos de crise, é preciso reunir forças e buscar apoio para se reinventar, com criatividade, para enfrentar os problemas que batem à nossa porta.
*Marcelo Niel, Médico Psiquiatra – CRM 97.875 / Doutor em Ciências pela UNIFESP.