De acordo com o relatório do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), em 2020 o Brasil deve atingir a sua maior taxa de empreendedores iniciais ou donos de negócios com até três anos e meio de atividade. Seja por necessidade ou para realizar um sonho antigo, o fato é que muitos empresários consagrados no mercado, hoje, acabaram entrando no mundo dos negócios sem qualquer pretensão e transformaram um hobby em uma grande fonte de renda, como é o caso do André Scampini.
Natural de Vitória (ES), André trabalhava na área da Tecnologia da Informação, porém, tinha interesse em conhecer melhor o universo das cervejas artesanais. “Decidi começar um curso, mas apenas como hobby, não tinha qualquer intenção de investir na área”, afirma Scampini. Depois de um período, André parou com as produções caseiras. Certo dia, enquanto olhava suas redes sociais, encontrou um anúncio que chamou sua atenção: “aprenda como fazer o seu próprio destilado em casa”.
O curso em questão era o “Mestre dos Destilados”, que ensina, através de aulas virtuais, como criar qualquer bebida em casa, além de informações sobre o universo dos destilados. “Entrei no site e achei interessante a possibilidade de aprender, em casa, como produzir diversas bebidas, já que eu não conhecia absolutamente nada sobre destilados”, afirma o empresário.
Desafio com sabor de chocolate
O pai de sua esposa é produtor de cacau da região de Linhares (ES). Certo dia, a esposa de André resolveu lançar um desafio e disse se ele conseguia agregar ainda mais valor ao chocolate e cacau produzido pela família. Foi então que Scampini resolveu colocar em prática tudo o que aprendeu no curso de destilados e teve uma ideia ousada: criar uma aguardente de cacau.
O grande desafio foi que, por ser algo ainda pouco explorado, não existiam referências de produção. “Depois de vários estudos e testes consegui encontrar a receita ideal, a fim de deixar a bebida mais aromática e saborosa. Após abrir a empresa, entrar com o pedido de patente e o registro da marca junto ao INPI, fiz uma parceria com uma destilaria do Espírito Santo e vou lançar a bebida no mercado ainda esse ano”, ressalta Scampini.
O curso online e as produções caseiras, que até então eram apenas um hobby, possibilitaram que André participasse de várias feiras e eventos nacionais durante o ano de 2019, inclusive três feiras na Alemanha, e amostras também foram enviadas para alguns países, tais como EUA, Suíça, Portugal e Bélgica. O empresário também já está pensando na possibilidade de exportar sua ideia.
Compromisso ambiental e social
A aguardente batizada de “CACAHUATL” nasceu da necessidade de se aproveitar melhor o fruto do cacau. Considerando-se que seu cultivo se destina à obtenção da amêndoa, o restante do fruto não era aproveitado. Com isso, surgiu a ideia de se produzir uma aguardente inteiramente feita do cacau.
Para conseguir uma matéria-prima de qualidade, o local não poderia ser outro se não Linhares. Recentemente, o município conquistou a Indicação Geográfica (IG) da amêndoa do cacau, qualificando-se para fornecer essa matéria-prima para grandes indústrias de chocolate, nacionais e internacionais.
O cacau em Linhares é cultivado em dois sistemas: “Cabruca” e “SAF”.
“Cabruca” (palavra de origem indígena) é um sistema no qual o cacau é cultivado à sombra das grandes árvores da mata nativa, ou seja, não apenas a floresta original é mantida intacta, como na verdade é usada para cultivar o cacaueiro, mantendo vivas e preservadas árvores centenárias.
“SAF” é a sigla para “Sistema Agro-Florestal”, onde o cacau é cultivado juntamente com outras culturas, tais como coqueirais, seringueiras, etc — e demais cultivos que resultem em grandes árvores que façam sombra para o cacaueiro. Assim, duas culturas ocupam o mesmo espaço, racionalizando o uso da área e evitando desmatamento desnecessário.
Na parte social, a produção da aguardente cria oportunidades de renda para o produtor de cacau e de trabalho para a população rural, sendo que esta última pode obter a matéria-prima da aguardente e vende-la para a produção da bebida. “Mais trabalho, mais renda, mais oportunidades de ganho para o homem e a mulher do campo”, finaliza Scampini.