Falta das terapias por longo período e rotina desprogramada potencializa a ansiedade e afeta o desenvolvimento das crianças.
O isolamento social frente à quarentena do coronavírus (COVID-19) tem dificultado a rotina de crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Segundo a Organização Mundial da Saúde, cerca de 2 milhões de autistas vivem atualmente no Brasil.
Como aproximadamente 57% dos brasileiros está em isolamento pela crise da SARS-COV-2, conforme levantamento da startup In Loco, as famílias com membros autistas têm se adaptado a momentos cada vez mais comuns de ansiedade, agitação, tédio e sensibilidade. Isso porque a impossibilidade de sair por um longo período, reajuste da rotina e falta das terapias tem sido potencializadores do transtorno autista.
Aconselhando pais e responsáveis a como cuidar de crianças autistas para os próximos meses de isolamento social, a Mestra em Psicologia Comportamental pela PUC-SP, Samanta Cavalcanti, propõe a criação de uma rotina de atividades completa, com dias e horários definidos para brincar, alimentar-se, dormir e acordar.
“Para pais que ainda não possuem uma rotina de atividades, eu sugiro criarem um calendário próprio para as crianças com autismo. Essa é uma maneira delas passarem pelos próximos meses da quarentena, com distrações para todos os momentos. Mantê-los ocupados durante o isolamento, que irá perdurar ainda por um tempo, fará com que a irritabilidade, tédio, sensibilidade e a euforia da antiga rotina diminuam”, explica.
Além do calendário, Samanta atenta para a importância da interação entre pais e filho nesse momento. Segundo a psicóloga, as crianças com TEA precisam se sentir seguras e irão recorrer muito a família nesse período, sendo crucial que os pais sejam constantemente presentes, conciliando o home office com os cuidados e brincadeiras junto aos filhos.
“Os pais tem uma tripla tarefa nesse momento: trabalhar, fazer as atividades domésticas e cuidar 24h das crianças. Eu recomendo que nos momentos afastados, os pais proponham brincadeiras estimulantes, como pinturas, objetos de encaixe e quebra-cabeças. Se ainda se sentirem entediadas, tentem um desenho animado na televisão. Quando estiverem perto dos filhos, façam com que elas gastem energia pulando e brincando de correr, preparando o cenário no quarto deles, cobrindo de objetos macios e tatames”, instrui.
Outro fator preocupante estudado por Samanta é a falta da terapia ocupacional nas crianças com autismo em virtude da quarentena. A profissional alerta que é fundamental, no atual momento, manter o contato com o terapeuta através da “telepratice” (terapia online). A tecnologia é usada para manter o vínculo entre profissional e a criança com TEA, praticando exercícios de escuta, fala e leitura via internet.
“Como não sabemos até quando vai se estender a quarentena, os pais não podem arriscar a desenvoltura das crianças, podendo acertar com o profissional de confiança a realização de terapias online. É preciso alertar aos pais também que crianças com TEA podem reagir de maneira distinta a algumas atividades, sendo importante mapear os hábitos das crianças antes de montar a rotina de atividades”, elucida.
Os efeitos de quem sofre com TEA são estudados desde 1943, por Leo Kanner, em “Autistic Disturbances Of Affective Contact” (Perturbações Autísticas do Contato Afetivo). Em um contexto de isolamento, Samanta explica que os pais devem manter a calma por ser uma experiência nova, ajustando a rotina, continuando as terapias e, sobretudo, ser amoroso e compreensivo com as crianças autistas.
Para mais informações sobre comportamentos sociais, acesse a página do Instagram da psicóloga @samanta.cavalcanti. Mais informações sobre o Instituto Viver estão no site habilidadesparavida.com.br.