“Não Se Se Te Contei” é o quarto registro fonográfico do cantor, compositor e produtor J. Velloso, que possui dois discos lançados (“Aboio Para Um Rinoceronte” e “J. Velloso e Os Cavaleiros de Jorge”) e um disco/livro (Sto. Antônio e Outros Cantos). O CD que estará disponível em todas as plataformas digitais, e nas lojas físicas, a partir do dia 01 de junho, mantem as características do artista, que é a de utilizar as muitas formas existentes na música popular brasileira para ajudar a expor seus pensamentos e sentimentos.
O novo disco, Não Sei Se Te Contei, é um disco mais leve e mais maduro do artista, e isso pode ser percebido nas composições e na forma de interpretá-las. O projeto do disco foi desenvolvido a partir da seleção das canções, junto com Luciano Salvador Bahia, partindo das ideias dos arranjos. Todo o disco é feito para “clarear” o entendimento das composições. Da capa aos timbres sonoros, da sequência das músicas às cores usadas no encarte, do símbolo do infinito no encarte ao trabalho finito que é o de gravar um disco. É um disco que quer ser “claro”. A produção musical de Luciano Salvador Bahia clareia de forma delicada e se aprofunda para dar a cada faixa o sentido que elas têm. O desenho do artista plástico Roney George e as ideias, expostas por ele, clareiam o significado do trabalho. O rosto da mãe do artista desenhado a lápis na capa do CD, pelo artista plástico Roney George, e que permaneceu enquanto o nome do disco era modificado no decorrer do tempo, é uma prova que uma imagem pode dizer muitas coisas, porém o batismo com “Não sei se te contei” realmente é mais preciso, pois o nome carrega um frescor de novidade, com surpresas a serem descobertas no decorrer da audição do CD.
Sobre esse novo projeto, J. Velloso conta: “O disco “Não sei se te contei” já teve outros nomes, como “J. Velloso Em paz”, por ser uma frase engraçada e absurda, assim como a música que tem esse nome, mas fiquei com receio de que não se percebesse a ironia que me interessava. Mudei para outro nome, “Desconhecido”, que eu adorava. Esse nome era por causa da música Lágbájá, que fala dos “sem rostos” na multidão, porém Ronaldo Bastos me disse que esse nome diminuía, acho que o interesse ou o próprio disco, então resolvi mudar de novo. Mas o que nunca mudou foi o desejo desse trabalho ser CLARAMENTE dedicado à minha mãe. Não por ele ter alguma grandeza particular, mas porque tudo que fiz até hoje e o que eu ainda vier a fazer será sempre para ela. Dei a sorte de ter contado tudo isso a ela. Ela apenas riu para mim. Isso já me dizia tudo. A gente nem precisava conversar. Agora realmente não podemos mais conversar, mas continuamos nos entendendo como sempre. E conto a vocês que todos os meus risos, todas as alegrias, todos os meus versos, todas as ideias, tudo o que canto, todo o saber amar, tudo, tudo que possa partir, de bom, de mim, eu “Não sei se te contei”, mas nem precisava, é para minha Dona Clara. ”
Esclarecimentos por cada faixa:
- BALA AZUL (J. Velloso)
Música que explora o tema da situação de risco, principalmente por menores, diante o consumo de crack como fuga para uma vida desamparada de família e dos poderes públicos, onde a sociedade se sente mais à vontade colocá-la à margem do que de abraçá-la para compreender o problema. A faixa conta com a participação especial do músico Marivaldo Santos (Stomp) e do Quabales (grupo de percussão do Nordeste de Amaralina, Salvador – BA dirigido por ele).
- BEBENDO ESTRELAS (Targino Gondim e J. Velloso)
Esta faixa conta com a participação de Targino Gondim, artista que possui identidade profunda com a música nordestina, cantando, compondo e tocando sanfona. Faz parte do arranjo a mistura do xote com reggae, inspirado na história de Luiz Gonzaga que quando ouviu um reggae pala primeira vez falou: “isso é um xotezinho muito descarado”.
- EM PAZ (J. Velloso e Thathi)
“A ideia foi de fazer um galope para ser cantado, tipo Chiclete com Banana, no carnaval da Bahia. O início parece com aberturas de músicas consideradas bregas, mas depois vira numa coisa super animada. Chamei minha parceira Thathi para terminar comigo”, conta J. Esta faixa conta com o naipe de sopro do grupo Skanibais e, no clipe, com a participação do cantor e compositor Gerônimo Santana, atuando. O clipe tem um gosto especial de escrache à música que carnavaliza a sofrência. Foi a primeira música revelada do repertório do álbum ”Não sei se te contei”.
- Não sei se te contei (Thathi e J. Velloso)
A música que batiza o disco foi composta a partir de uma conversa de Thathi com o cantor e compositor Herbert Vianna. Ele, por cuidado e preocupação com o esquecimento do mesmo, sempre dizia a ela, durante as conversas: “não sei se te contei”. Na época ele ainda estava com a memória recente comprometida devido ao acidente ocorrido com ele. Achei esse ato dele tão delicado que chamei Thathi para fazermos uma canção a partir desse gesto tão especial. A ideia, na canção, é ter uma conversa aparentemente corriqueira, mas com uma profundidade existencial através dessa simplicidade.
- Cacique (J. Velloso)
Composição feita após conversas, pela internet, de J. com o cantor Otto. Durante uma delas o compositor pernambucano sugeriu fazerem uma música. J iniciou, mas “a música veio quase toda”, dessa forma o compositor baiano fez mais uma parte de melodia, mas acabou não nascendo a parceria pela dificuldade dos dois se encontrarem. Mas o que é interessante dessa música é que ela foi feita com a intenção de fazer uma análise sobre a figura desse artista. É uma mistura agreste de tristeza, amor, irreverência e delicadeza. O palavrão é em homenagem ao artista baiano Márcio Mello. Essa faixa também é contemplada com a participação do artista pernambucano Capitão Corisco e com um clipe produzido pelo Estúdio Mundo.
- Língua das Ondas (João Gil e J. Velloso)
A pedido da cantora Stella Maris, J. fez uma letra para o compositor português João Gil musicar, uma sugestão de Aldo Brizzi para que o trabalho da cantora pudesse ter mais visibilidade na Europa. A letra permeia o nome de Stella Maris numa conversa sobre o que é o amor.
- Dominguinhos (Armandinho Macêdo e J. Velloso)
Essa parceria com Armandinho nasceu após uma conversa entre os artistas sobre a pessoa maravilhosa que foi Dominguinhos. A música foi feita na época em que Dominguinhos já estava na UTI, mas num tom meio de revolta, a letra pede a Deus nos dê “Dominguinhos a vida inteira” e brinca, ao dizer, que podemos fazer um dominguinho em qualquer dia da semana, basta transformar esse dia em um dia livre de compromissos de trabalho. O arranjo é também uma homenagem ao grupo A Cor do Som, do qual Armandinho faz parte. A guitarra baiana no arranjo faz, desde o início da faixa, um contraponto com o xote executado pela sanfona de Cicinho de Assis.
- Lágbájá (Alexandre Leão e J. Velloso)
Lágbájá é uma palavra iorubá que significa “ninguém em particular”. Representa o anonimato do chamado “homem comum”, como as pessoas que passam por a gente na rua e nem reparamos nada nelas. A música é dedicada aos sem rostos e sem vozes na sociedade. A participação do DJ Sankofa (Gana) cantando deu um brilho todo especial para aumentar o significado da música.
- Pra você não ouvir (J. Velloso)
Música feita para Maria Sampaio, fotógrafa e escritora baiana já falecida, que apresentou muitos fados a J., principalmente os de Amália Rodrigues. Sempre foi uma entusiasta com o trabalho artístico de J. A participação do fadista Nuno da Câmara Pereira é um presente do destino, que somado às participações dos músicos portugueses Fernando Silva e Carlos Velez, faz com que essa homenagem à Maria (Sampa) se torne a faixa mais emocionante.
10.O que eu não conheço (Jorge Vercillo e J. Velloso)
A canção é mais uma das parcerias com o amigo e compositor Jorge Vercillo. É a única música que não é inédita do disco, pois já foi gravada pelo próprio Jorge e por Maria Bethânia. A letra nasce a partir de uma conversa com Bethânia sobre a beleza que há no outro lado do bordado.
11.Desfruto (Luciano Calazans e J. Velloso)
A canção que finaliza o disco é a mais nua. O arranjo “só” conta com a participação exuberante do grande músico Luciano Calazans, que faz várias linhas de baixo na gravação. Canção feita durante uma turnê pela região de Porto Seguro, cujo o nome do rio que corta a cidade chama-se “Buranhém”, nome originado da língua tupi e significa “árvore doce”, mas que na letra o compositor preferiu criar uma imagem oposta falando de uma “árvore de casca amarga”.