As redes sociais e a geração “floco de neve”

*Leonardo Torres
Quantas vezes você escuta ou fala “eu não aguento mais”; “isso não é para mim”; “eu não me sinto confortável fazendo isso ou aquilo”. Estamos em uma linha tênue: de um lado, pessoas que não enxergam o sentido de suas vidas porque realmente elas vivem vidas que não dão sentido a elas; do outro, pessoas que não tentam, não vão atrás de seus sonhos e se colocam em posição de vítima, pois a zona de conforto é melhor do que ter que sair mundo afora para buscar seu sentido de vida. E a verdade é que buscar o sentido é lidar constantemente com frustrações.
E parece que perdemos a capacidade de lidar com frustrações. Venho me perguntando sobre as novas gerações que os especialistas chamam de “floco de neve”, “nem nem”, etc. A questão é que, se não estamos sabendo lidar mais com as frustrações, estamos condenados à extinção. Em qualquer aspecto da vida, seja físico, social, psicológico, cultural, o cosmos (ordem) só se faz a partir do caos (desordem), e isso é um ciclo que retroage infinitamente um sobre o outro. Precisamos nos frustrar para nos reorganizar, para seguir em frente em nosso caminho de vida. Onde não há desordem de vez em quando, há entropia (falta de trocas), e entropia é sinônimo de morte. Podemos chamar isso de autopoiesis ou resiliência, a capacidade de se reorganizar depois do caos. Essa é a ignição e a chave da vida.
Porém, essas gerações novas se formaram pautadas mais por algoritmos que entregam conteúdos que os fazem se reafirmar enquanto ser e estar no mundo. Por vezes, não somente as redes sociais, mas as drogas lícitas e ilícitas são uma um bálsamo, um anestésico, para fugirmos dos problemas. Isso tudo é um perigo, pois gera “mesmidade”, ou seja, baseados em um narcisismo profundo, estamos cada vez menos trocando conhecimento, sabedorias, realidades, etc..
“Mesmidade” é conviver com o mesmo. Viver e estar no mesmo é confortável e nada frustrante. Estamos cada vez mais mimados pela dinâmica comunicacional das redes sociais e da mídia como um todo. O ser humano não percebeu, mas nada sobrevive a “mesmidade”. Em uma floresta, a diversidade é exemplo. Na monocultura, nem as abelhas sobrevivem, devido às toxinas, a falta de diversidade de pólen, etc.. Na sociedade alemã, a “mesmidade”, no sentido de um pensamento unilateral, portanto, totalitário, levou o Nazismo ser democraticamente eleito. Devemos lembrar ainda que não houve racionalidade alguma que tornou os nazistas conscientes. A racionalidade é fundada nas emoções.
Devemos rumar para a alteridade: a capacidade de reconhecer e conviver com o diferente, com a diversidade. Ela nos promoverá algumas frustrações, pois o embate com o outro sempre nos comove (move ambos) e assim fará com que nós aprofundemos o conhecimento, as sabedorias e as experiências de vida. Diversidade e alteridade é a chave.
*Leonardo Torres, 28 anos, Palestrante, Professor, Doutorando em Comunicação e Cultura Midiática e Pós-graduando em Psicologia Junguiana

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