12 de outubro foi o Dia Mundial de Conscientização da Artrite Reumatoide, mas ainda existe muito desconhecimento sobre essa doença, que pode incapacitar. A artrite reumatoide (AR) é uma doença inflamatória crônica que pode afetar várias articulações, além de outros órgãos. Segundo a Sociedade Brasileira de Reumatologia a artrite reumatoide atinge cerca de 1% da população em todo mundo, afetando duas vezes mais mulheres que homens, principalmente na faixa dos 30 a 50 anos, porém também pode afetar crianças, passando a se chamar a artrite idiopática juvenil. É uma doença chamada autoimune, ou seja, o sistema imunológico passa a atacar células do próprio corpo causando inflamação, principalmente nas articulações.
Não se sabe ao certo porque isso acontece, porém acredita-se que o fator genético, juntamente com fatores externos ambientais, como infecções por vírus e bactérias, aumente sua chance de surgimento. Outro fator de risco é o cigarro, que estimula os processos inflamatórios, e pode se tornar um gatilho para o desencadeamento da artrite, agravando o quadro dos pacientes. “É preciso chamar a atenção da população para a artrite reumatoide e outras doenças reumáticas, como a espondilite anquilosante, psoríase e lúpus, que ainda são desconhecidas pela maioria, mas trazem muito impacto na qualidade de vida. Além disso, em outubro são comemoradas quatro datas importantes para a área: o Dia Mundial de Conscientização da Artrite Reumatoide (12), o Dia Mundial e Nacional da Osteoporose (20), o Dia Nacional e Mundial da Psoríase (29) e Dia Nacional de Luta contra o Reumatismo (30)”, comenta a reumatologista Ana Luisa Pedreira.
Sintomas – Os principais sintomas da artrite reumatoide são dor nas articulações dos dedos das mãos, punhos, pés, joelhos, tornozelos, cotovelos e ombros, dor na região do quadril, inchaço e aumento da temperatura nas articulações, rigidez matinal (dificuldade para mexer as articulações no período da manhã), fadiga, e eventualmente nódulos reumatoides, inflamação ocular, envolvimento pulmonar e de glândulas lacrimais e salivares, q caracteriza a Síndrome de Sjogren secundária. Os períodos de crises podem ser alternados com momentos em que o inchaço e a dor das articulações desaparecem ou ficam menos frequentes.
A AR pode levar a vários graus de incapacidade e tem um profundo impacto sobre os aspectos sociais, econômicos e psicológicos da vida do paciente. “Descobri a doença em 1992, quando trabalhava numa ótica e eu precisava subir escada, usar as mãos, tirar a farda, tirar as medidas, coisa que já não conseguia mais fazer, mas o diagnóstico foi rápido, em dois meses já sabia que era artrite reumatoide. Durante a minha gravidez, sentia menos dores, mas um mês depois do parto já não conseguia pegar meu filho. De repente fiquei dependente da minha irmã, que teve que morar comigo e ajudar a cuidar de mim e do meu filho”, afirma Valdete Carvalho, participante da ABRACE (Associação Baiana de Pessoas Reumáticas, Afiliados, Colaboradores e Entusiastas), e comenta “Fiquei em coma por duas semanas, fui internada muitas vezes com crises de dores, tenho uma prótese no joelho direito, entre outras sequelas”.
Segundo a reumatologista Ana Luisa Pedreira, a artrite é uma das doenças em que as opções terapêuticas mais avançaram nos últimos 15 anos. “É importante procurar ajuda médica especializada assim que os sintomas começarem a se manifestar para que a qualidade de vida seja recuperada com o tratamento e que o paciente não seja levado à incapacidade física, em casos graves”, finaliza. O diagnóstico de AR é estabelecido com base em achados clínicos e exames complementares, sendo que atividades físicas e dieta equilibrada são muito importantes para o controle da doença. Mesmo com a inflamação controlada, os pacientes podem sofrer com o efeito dos medicamentos, que podem baixar a imunidade e que gerar outros problemas relacionados ao seu uso.
Impacto na vida profissional e social – A doença, que em casos graves, pode levar à incapacidade para o trabalho e para desempenhar funções corriqueiras do dia a dia, atinge a vida social e profissional dos pacientes. Segundo pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS), feita com mais de 9 mil pessoas participantes, a artrite reumatoide atinge uma em cada 100 pessoas. Do total, 36% das pessoas tiveram que parar de trabalhar ou a doença prejudicou de algum modo a carreira profissional delas. Apesar dos avanços nos tratamentos, os pacientes ainda têm diversas dificuldades, sobretudo, na vida pessoal e social, diz a psicóloga Natália Gomes, das Clínicas Clivale, que ressalta que casos de depressão em pacientes com artrite reumatoide são comuns e a maioria deles sofre com frustrações, depressão e alterações de humor, além de sentirem o impacto da doença na vida sexual. “Depois de 26 anos sofrendo com AR, não sou a pessoa que eu era, tive que reaprender a viver com esse problema de saúde. Hoje sou feliz, mas é uma vida de muita luta, muita guerra contra as dores, como todo mundo que sofre de artrite, e ainda temos de sorrir para as pessoas para não deixá-las constrangidas por causa da dor que a gente sente”, desabafa Valdete Carvalho.
AR e doenças do coração – “A artrite reumatoide é considerada um fator de risco para doenças cardiovasculares, pois estimula um processo inflamatório crônico, favorecendo os quadros de aterosclerose (formação de placas na parede dos vasos, podendo levar à sua obstrução) e aumentando a probabilidade do paciente sofrer um infarto ou derrame”, comenta a cardiologista Suellen Bezerra, cardiologista da Center Cardio. O risco de infarto em pacientes com AR é semelhante ao dos pacientes com diabetes e, segundo algumas pesquisas, mulheres com artrite tem seis vezes mais chances de ter um ataque cardíaco. Enquanto os diabéticos já sabem que a doença é um fator de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e monitoram sua saúde cardíaca, os que sofrem com artrite não sabem dos riscos e cuidam menos do coração. “Mesmo que o paciente não tenha histórico de doenças cardiovasculares e evite outros fatores de risco (sobrepeso, fumo, etc) é importante fazer um acompanhamento com um cardiologista”, afirma a médica.
ABRACE – Associação Baiana de Pessoas Reumáticas, Afiliados, Colaboradores e Entusiastas.
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