Ela Abraça o Brasil, de Canto a Canto
De Martha Ribeiro
A coluna “Um jeito especial de ser” desse mês é dedicado a minha conterrânea, a baiana Ângela Leal. Ela aprendeu sozinha a ler e a empreender. Para comemorar os 25 anos da Tapetah, empresa que criou, Ângela escolheu reverenciar a arte brasileira em desfile histórico.
O lançamento da Coleção 2023 da Tapetah, neste domingo (12) homenageou os 25 anos da marca, que abraçou o Brasil de canto a canto. Foi esse o tema que a empresária Ângela Leal e o curador Túlio Augusto pensaram para homenagear todos os 26 estados brasileiros e o distrito federal. O evento faz parte do calendário oficial da DW, Semana de Design de São Paulo, que começou em 11 de março e segue até o próximo domingo (19).
O artista plástico e carnavalesco Alberto Pitta, a ilustradora e designer pernambucana Joana Lira e o estilista mineiro Ronaldo Fraga foram alguns dos artistas convidados para estampar os casacos usados no desfile. A peça criada por Reinaldo Lourenço foi cedida pelo estilista, exclusivamente, para a coleção comemorativa da Tapetah: “É possível representar o Brasil com arte. A moda tem tudo a ver com decoração, arquitetura e design mobiliário”, pontuou.
A modelo Juliana Rodrigues, estrela da Coleção Abraça Brasil – De Canto a Canto, abriu o desfile vestida em uma capa com arte assinada por Daisy Barros – mesma usada no tapete Pequi na Rede – e joia do designer Marcelo Lopes. Logo em seguida, os colaboradores da Tapetah modelaram os espaços da loja Conceito, na Alameda Gabriel Monteiro da Silva, com as estampas que representaram cada canto do Brasil.
No tabuleiro da baiana tem
A Bahia foi traduzida pelo artista plástico e carnavalesco Alberto Pitta, pioneiro no desenvolvimento de estampas afro baianas, destaque no cenário artístico e cultural da Bahia, sobretudo no que se refere ao carnaval dos blocos afro e afoxés de Salvador. A estampa afro baiana do tapete “Contos” criada por Pitta tem símbolos, adereços e indumentárias dos orixás.
Para Túlio Augusto, curador do desfile, “através da diversidade de estilos, etnias e expressões artísticas, percorremos a imensidão do território brasileiro; as histórias, os sorrisos e transformamos um sonho meu, da Tapetah e de vários artistas em um sonho coletivo. Foram várias reuniões online, muita pesquisa para trazer o canto, o encanto e a miscigenação da arte, da cultura, da religiosidade e da raça do povo brasileiro. Ângela é uma inspiração de ser humano. Estar com ela, uma baiana e com toda essa diversidade dos colaboradores da Tapetah, respeitando a arte da cada canto do Brasil foi muito prazeroso para mim”, definiu.
Vestida de Ronaldo Fraga, um dos estilistas que desenharam a coleção, Ângela Leal fechou o desfile. Ao lado da modelo Juliana Rodrigues, ela agradeceu a todos os colaboradores e artistas convidados: “Os nossos modelos foram os nossos colaboradores, os verdadeiros artistas, que transformam todas as nossas ideias nessas belezas que estão aqui; verdadeiras obras de arte. Sem eles, nada disso se realizaria. Esse evento foi idealizado para comemorar os 25 anos da Tapetah. É um pouquinho da arte de cada um. A gente se junta aos grandes e a gente puxa os pequenos”, concluiu emocionada.
A baiana tem graça como ninguém
A música “O que é que a baiana tem” escrita por Dorival Caymmi e gravada por Carmen Miranda para o filme Banana da Terra de 1938 parece ter sido feita para Ângela Leal. Foi numa casa de palha, na beira do Rio, em uma cidade interiorana da Bahia, que a empresária aprendeu a ler. Até chegar a São Paulo, ela construiu muitos sonhos com a sua cartilha.
Foi aos treze anos, quando foi morar em Salvador para cuidar de uma sobrinha, que Ângela entrou em uma escola, pela primeira vez. Desde muito cedo começou a trabalhar e acumulou algumas experiências: vendedora de seguros, garçonete de exposição de gados, distribuidora de marmitas.
Tem fibra de sisal, tem
O amor pelos tapetes começou em São Paulo, quando percebeu que o sisal ainda era vendido “como um forro, sem qualquer valor agregado”. Extraído da planta Agave sislana, as fibras do sisal são muito comuns no Nordeste. O Brasil é um dos maiores produtores de sisal do mundo. Foi com esse espírito empreendedor e com a mente aguçada de quem aprendeu a ler sozinha, que Ângela Leal fez parceria com uma artista e abriu o seu primeiro ateliê na Vila Madalena, bairro tradicional da capital paulista.
Com o crescimento da empresa, Ângela trouxe a mãe, os irmãos e os sobrinhos para a megalópole brasileira: “Minha mãe era filha de uma mulher negra, pobre e analfabeta; foi ela quem me inspirou a buscar o sucesso com muito trabalho”, contou a Humberto Abdo, colunista do Terraço paulistano, uma das seções da revista Veja São Paulo.
Em 1998, há 25 anos, a loja conceito da Tapetah foi criada para produzir tapetes com fibras de sisal. Com o tempo, a produção aumentou e a parceria com designers renomados como Hans Donner, Alex Bigelli e Claudia Colagrande foi determinante para a ampliação tecnológica em 2022, de uma das fábricas, que fica localizada em Terra Preta, perto de Mairiporã, São Paulo. Atualmente, a Tapetah é referência no Brasil em tapetes personalizados de alto padrão – todos os teares utilizados na fabricação são manuais –, a empresa também e pioneira na criação em tecido estampado.
O curador da coleção Abraça Brasil – De Canto a Canto resumiu em um poema, a história que Ângela Leal construiu com a Tapetah, nesses 25 anos de existência: “Mãos brasileiras foram responsáveis por produzir verdadeiras obras de arte. Um conhecimento que passa de geração em geração. O carinho de habilidosos tecelões transforma talento em tapetes únicos e cheios de história para contar. Mãos que trabalham. Mãos que lutam. Mãos que constroem. Artesãos, artistas e designers de todo o país, reunidos para criar essa coleção histórica. A Tapetah abraçou o Brasil, de canto a canto. Sintam-se abraçados”.