A potência cultural e social do Ilê Aiyê vai passar sua mensagem de resistência e alegria no segundo domingo de julho, dia 12, quando acontece a mais bela de todas as lives, a partir das 16h, da Senzala do Barro Preto, no Curuzu, para o mundo. A magia, a percussão e a beleza do bloco afro estarão no ar pelos canais do YouTube da Macaco Gordo e do Ilê Aiyê, convidando todos para uma pulsação única em nome da união e do respeito mútuo.
Dirigida por Chico Kertész e titulada Ilê Vivo, a live do Ilê será apresentada pelo ator baiano Sulivã Bispo no seu personagem Koanza Auandê, uma drag queen preta, e pelo poeta James Martins. Serão cerca de duas horas de show com músicas do repertório do bloco que, além colocar a galera para dançar, pautam reflexão e a atenção para as demandas raciais que vêm movimentando América nas últimas semanas.
A apresentação busca arrecadar fundos para a manutenção dos projetos sociais da entidade, que funcionam na Senzala do Barro Preto. Os tambores conhecidos em todo mundo pelos toques que embalam milhares de pessoas, principalmente no Carnaval de Salvador, serão agora um convite para que os admiradores do bloco contribuam para a manutenção dos seus projetos sociais, como as escolas Mãe Hilda e Band’erê, que já formaram milhares de crianças e jovens de Salvador, dando a eles a oportunidade de trilhar um caminho de êxito através da arte e da educação.
Um dos ex-alunos das escolas do Ilê Aiyê é o mestre da Band’Aiyê, Mário Pam, 42 anos, que ingressou na Band’erê em 1992 e, desde 2005, responde pela regência da banda da casa. Hoje, Pam é formado em Música e desenvolve seus próprios projetos sociais, além de ter carreira solo como cantor, compositor e percussionista. “Como jovem de periferia, não tínhamos lazer e o tambor virou nossa diversão e nosso meio de formação como cidadão e homem negro dentro da sociedade. Através do Ilê, descobri que poderia ter um caminho através da educação. Graças ao bloco, já viajei para muitos países, gravei com artistas como Criolo, Daniela Mercury e Bjork, e hoje tenho respeito no meio musical”, conta Pam.
Assim como ele, o percussionista Clemerson Correia, 43, mais conhecido como Patinho Axé, encontrou nos projetos sociais do Ilê uma oportunidade para voar alto, além até do que poderia sonhar. Há 15 anos, ele mora na França, em Marseille, e tem uma escola de percussão, que divulga a cultura afro brasileira através da percussão, da dança e do canto. “Minha relação com o Ilê já tem 27 anos, e eu estou fazendo aqui o que o Ilê faz, divulgar nossa cultura. Fui o primeiro aluno da Escola Mãe Hilda, quando as aulas ainda aconteciam no terreiro. Ingressei na Band’erê com 10 anos, depois fui para Band’Aiyê e, numa das viagens com a banda, resolvi ficar. Hoje moro na Europa e falo outro idioma, agradecendo sempre ao afro pioneiro Ilê Aiyê”, comemora Patinho.
Como Pam e Patinho, outras tantas carreiras artísticas nasceram nas escolas do Ilê Aiyê, como as de Helder Show, Iana Marucha, Juarez Mesquita, Dhanda, Márcio Pitter, Kehindê Boa Morte, todos ex-alunos da Band’erê que, desde 1992, oferece aulas de percussão, dança, canto e cidadania. Ao longo desses 28 anos, a Band’erê já contribuiu com a formação de mais de 1000 crianças. Já a Escola Mãe Hilda abriu suas portas em 1988, oferecendo ensino regular nos níveis Educação Infantil e Ensino Fundamental – Ciclo I, para crianças de 7 a 12 anos de idade. Mais de 1500 crianças já passaram pela instituição.
O Ilê também idealizou, em 1995, sua Escola Profissionalizante, que já capacitou 7 mil jovens e adultos com cursos de percussão, dança, confecção de instrumentos percussivos, informática, telemarketing, eletricidade predial, confecção de bolsas e acessórios, estética negra, dentre outros.
O Ilê Vivo vai contar com a participação de ex-alunos dos projetos sociais, dando seus depoimentos sobre a presença marcante do Ilê Aiyê na sua formação. A ideia é que, neste momento tão propício a reflexões, o bloco afro mais antigo do Brasil mostre sua cara numa apresentação que celebra seu papel social e sua história, lembrando que a entidade reafricanizou o Carnaval da Bahia e contribuiu de forma determinante para o resgate da autoestima do povo negro.