Partir da memória coletiva, da contribuição de gerações pregressas e do presente para estabelecer uma comunicação com o ancestral como inspiração para propor interferências no presente. Essa é uma das motivações que levaram ao lançamento da segunda edição do livro “Música e ancestralidade na Quixabeira”, de Sandro Santana. A versão ampliada e revisada do livro inclui o capítulo “Tradição, memória e esquecimento”, no qual o pesquisador empreende uma análise sobre os conceitos de memória e esquecimento a partir das ideias de Paul Zumthor, numa encruzilhada multidisciplinar com pensadores como Henri Bergson, Alfredo Bosi, Maurice Halbwachs e Stuart Hall. O evento de lançamento será realizado em Salvador ainda conta com a apresentação do pocket show do grupo de cultura popular Quixabeira da Comunidade de Lagoa da Camisa. O lançamento em Salvador acontece no dia 23 de maio, às 19 horas, na Tropos, Rio Vermelho.
O livro é um desdobramento do projeto homônimo contemplado pela Bolsa Funarte de Produção Crítica Sobre as Interfaces dos Conteúdos Artísticos e Culturas Populares (2009), concedida para o autor empreender uma pesquisa e a produção do texto. O estudo tem como objetivo fazer uma reflexão acerca do papel da música e da ancestralidade enquanto instrumentos catalisadores das relações sociais e base estrutural dos processos identitários nas comunidades situadas na área de transição entre o recôncavo e o sertão, que tem início no agreste baiano e se expande até a região sisaleira. “Quando apresentei este projeto de pesquisa à Funarte o meu desejo era compreender as origens dessa musicalidade vibrante, cheia de vida e de cores, simples e poética, que emociona e nos conta parte da nossa história”, explica o autor.
Essas comunidades têm em comum, além da agricultura de subsistência, com o predomínio do cultivo do feijão, milho e mandioca, seus cantos de trabalho e celebrações profano-religiosas. Numa região onde historicamente as oportunidades dentro da educação básica são para poucos, a leitura e a alfabetização luxos ao qual o lavrador isolado em pequenas comunidades não pode se dar, os sambas de roda e martelo, os bois de roça e roubado, as batas de milho e feijão, as chulas, farinhadas e reisados têm um papel estratégico na sociabilidade e transmissão da sua cultura centenária.
Segundo Santana, a ideia desse estudo nasceu da experiência como produtor do Grupo Quixabeira de Lagoa da Camisa, desde 2001. As práticas simbólicas e o acompanhamento de manifestações culturais na Comunidade despertaram o desejo de aprofundar algumas reflexões que se embasam na convivência e na reciprocidade estabelecida com os seus membros através da relação com o Grupo, que já rendeu a gravação de dois CD, um curta-metragem, shows na Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Minas Gerais e a produção de um documentário “Cantos de trabalho: bois, batas e cantigas”, premiado no Edital Bahia na Rede (FSA/ IRDEB), no qual Santana acumula as funções de diretor, roteirista e diretor musical.