*Dr. Marco Lipay
A preocupação sobre a necessidade de reposição hormonal é um tema universal e recorrente em nossos dias. Os exemplos são da Associação Americana de Urologia (AUA) – 2018 – e da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) – 2017 -, que publicaram normas e recomendações para boas práticas no uso da testosterona. Ambas preconizam o diagnóstico e tratamento de reposição de testosterona de forma eficaz e segura.
Nos Estados Unidos, a AUA fez uma revisão sistemática e criteriosa a partir de pesquisas de artigos científicos publicados no período de 1980 a 2017, que rendeu 15.217 referências e envolveu aproximadamente 350.000 homens. Dessa análise, ficou evidenciado que os testes de testosterona e prescrições quase triplicaram nos últimos anos. Muitos homens estão usando testosterona sem uma indicação clínica precisa. Alguns estudos estimam que até 25% dos homens que recebem terapia com testosterona não têm testosterona testada antes do início do tratamento. Dos homens que são tratados com testosterona, quase metade não tem seus níveis de testosterona verificados após o início da terapia. Estima-se que até um terço dos homens que são colocados em terapia com testosterona não atendem aos critérios para serem diagnosticados como deficientes em testosterona.
Os sinais e sintomas do Distúrbio Androgênico do Envelhecimento Masculino (DAEM) podem ser sexuais e não sexuais, como diminuição ou perda de libido (perda do interesse sexual); disfunção erétil; ereções matinais menos frequentes e de menor qualidade; obesidade abdominal; baixa densidade mineral óssea; depressão; fadiga; perda de pelos corporais; redução da sensação de vitalidade ou de bem-estar; anemia; presença de níveis alterados de colesterol, triglicérides e glicemia.
O declínio da função gonodal é parte do processo normal de envelhecimento masculino. Estima-se que os níveis de testosterona em homens com mais de 40 anos diminuam a uma taxa de 1% ao ano. O diagnóstico do DAEM requer a presença de sinais e sintomas característicos em combinação com níveis baixos de testosterona. Para isso, deve-se realizar a coleta da amostra de sangue para dosagem da testosterona pela manhã e são necessárias pelo menos duas dosagens em dias diferentes, quando a primeira dosagem for baixa. Quando se faz o diagnóstico de hipogonadismo (baixos níveis de testosterona), os níveis séricos de hormônios luteinizantes e prolactina devem ser medidos.
Vale ressaltar que, recentemente, a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) emitiu nota apoiando a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), reforçando a publicação do Conselho Federal de Medicina (CFM), que não reconhece a especialidade intitulada “Modulação Hormonal”. Esse posicionamento vem ao encontro da Resolução do CFM, segundo a qual a reposição de deficiências de hormônios e de outros elementos essenciais se fará somente em caso de deficiência específica comprovada e que tenha benefícios cientificamente comprovados. Portanto, a reposição hormonal é um ato médico e somente pode ser feita por profissionais médicos, preferencialmente um especialista.
*Marco Aurélio Lipay é doutor em Cirurgia (Urologia) pela UNIFESP, titular em Urologia pela Sociedade Brasileira de Urologia, membro Correspondente da Associação Americana de Urologia e autor do Livro Genética Oncológica Aplicada a Urologia