Tenho Lúpus. Posso engravidar?

Isabella Lima*

Essa é a dúvida de muitas mulheres e cada caso deve ser avaliado separadamente, já que a gravidez em pacientes com Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) depende de algumas variáveis. Vale ressaltar que sim, é possível, mas uma reposta mais acertada vai depender de uma análise por parte do reumatologista, pois é uma gravidez que requer cuidados especiais, portanto deve ser planejada.

Em geral, a doença por si só não é uma contra indicação absoluta para a gravidez, mas ela deve estar em remissão (inativa) por no mínimo seis meses para evitar uma reativação. Também é imprescindível avaliar quais medicamentos estão sendo usados no momento que se decide pela gravidez. Há medicações que podem ser mantidas, sem efeitos colaterais para o bebê, mas a maioria deles deverá ser suspensa no momento, ou antes, do período gestacional, a depender da droga. Então, não basta estar em remissão, tem que avaliar o tratamento que está sendo utilizado no período. Por isso o momento de engravidar deve ser planejado e discutido também com um médico reumatologista para fazer adaptações no tratamento caso seja necessário.

Riscos – Já durante a gestação, os cuidados necessários são, além do acompanhamento regular com o reumatologista e obstetra, a proteção contra o sol, manter uma dieta e hábitos saudáveis e evitar o estresse. Isso pode evitar riscos como o de abortos, pré-eclampsia (hipertensão arterial), nascimento prematuro do bebê ou com baixo peso.

A presença do anticorpo Anti Ro, provoca na criança o risco de desenvolver Lúpus Neonatal. De fato, o Lúpus Eritematoso Sistêmico não é transmissível para o bebê, mas esta síndrome é o reflexo da presença temporária do anticorpo da mãe na circulação fetal. Assim, a presença desse anticorpo pode causar lesões cutâneas passageiras e sua manifestação mais grave e, felizmente, rara, é o bloqueio atrioventricular, que deixa  as batidas do coração do bebê mais lentas. Esse problema pode ser identificado já durante o período pré-natal, demandando a necessidade de cuidados específicos logo após o nascimento, como a colocação de marca-passo.

Outra característica que pode estar relacionada ao Lúpus e a gestação são os abortos de repetição, que, entre outras causas, podem estar relacionados à presença de anticorpos Anti-Fosfolípides. A presença destes anticorpos e, dependendo do histórico da gestação e da ocorrência de tromboses anteriores, vai requerer orientações específicas durante o pré-natal, para que a gravidez transcorra bem até o final.

Bebês saudáveis – Felizmente, na grande maioria das vezes, quando seguidas as orientações médicas, as pacientes com Lúpus dão à luz filhos saudáveis. No momento de escolher um obstetra é importante que esse profissional esteja preparado para atender às particularidades dessa gravidez, além de ter um contato próximo com o reumatologista. As mães, sobretudo aquelas de primeira viagem, se sentem fragilizadas pela mudança da rotina e as dificuldades inerentes a uma gestação. Por isso é importante que essa mãe e o bebê tenham uma rede de apoio, do pai, familiares e amigos, para enfrentarem esse período de alegria e muitas mudanças sem sofrer com a  doença!

 

*Dra. Isabella Lima é reumatologista, Doutora pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, professora adjunta da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia e Preceptora do programa de Residência em Reumatologia do HUPES.

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