Temos fome de quê? Por Maria Medeiros

As pessoas costumam associar etiqueta à rigidez de comportamento, à frescura, à futilidade e, pasmem, até mesmo à infelicidade. Prova disso é que, recentemente, ao ser apresentada em uma reunião social, ouvi o seguinte comentário: Maria, na minha casa não tem etiqueta. Só tem felicidade! Compartilho aqui minha inquietação: você se sentiria infeliz ao ter respeito e consideração pelo outro?

A felicidade vai de encontro ao bom-senso, à boa educação e à elegância? Muitos já ouviram a frase de autoria do dramaturgo romano Titus Maccius Plautus e que se tornou conhecida ao ser citada pelo filósofo Thomas Hobbes, em sua obra Leviatã: “O Homem é o lobo do homem”. Se já é difícil controlar, por meio das leis, a violência, a corrupção, a intolerância e outras mazelas sociais, imaginem em um ambiente no qual não existissem regras. Sou segura de que viveríamos em meio à selvageria absoluta, como presumia Hobbes.

Ao contrário do que muitos creem, o uso das regras de etiqueta social, profissional e virtual, a recém batizada “netiqueta”, só contribui para o convívio harmônico entre nós. Sabe por quê? Porque, ao estabelecer normas de conduta e comportamento nas diferentes esferas de relacionamento, neutraliza-se, em grande parte, a vocação egoísta e egotista inerentes ao ser humano. Ao direcionar o olhar e a atenção para o outro, as regras de etiqueta fortalecem a tolerância, a solidariedade e o respeito mútuos. Enfim, eleva-se o grau de civilidade de um povo. E é disso que tenho fome. E você?

Foto: Erik Salles

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