Gregórios é convite para decifrar o poeta Boca de Brasa

Para um artista tão múltiplo e polêmico, traduzi-lo na temporada de uma exposição será sempre uma tentativa insuficiente. Não à toa o nome é Gregórios, no plural, para abraçar o reconhecimento de que Gregório de Mattos jamais será um só. O poeta sempre deu muito que falar e vai render ainda mais assunto já que a mostra, em cartaz na Galeria da Cidade, Teatro Gregório de Mattos (TGM), foi estendida até outubro de 2018 e será remodelada para ganhar formato de memorial permanente.

Ter Gregório de Mattos ao alcance das vistas, ouvidos e mãos, como propõe a exposição, que tem caráter interativo, é ampliar as possibilidades de interpretação sobre sua obra que, de tão vasta, divide até hoje opiniões entre pesquisadores. Tendo vivido entre 1636-1696, tornou-se um dos maiores poetas do Barroco português, mas ficou conhecido também como Boca do Inferno, devido às suas críticas ferozes a alguns membros da corte portuguesa.

A mostra estampa nas paredes palavras como ‘gênio’ e ‘racista’ ou, até, ‘santo’ e ‘misógino’, que dialogam entre si em uma dicotomia crítica para definições sobre o poeta. Canalha, tarado, libertino, boêmio, capadócio, cínico, neurótico, homofóbico, plagiador, anarquista, colonialista, monárquico, nacionalista, visionário, iluminado e herói também são algumas das tantas maneiras antagônicas a que já se tentou reduzir o poeta barroco.

No intuito de contextualizar sua obra e vida, a exposição reproduz de forma contemporânea sensações do ambiente seiscentista da velha São Salvador, criando uma atmosfera semelhante aos locais pelos quais o poeta passou ao longo da vida. Atrelada a painéis com fatos históricos, a Salvador do século XVII, por exemplo, é apresentada através de artifícios que mexem com os sentidos da audiência: a iluminação, os sons, as imagens e texturas, para transportar o público para aquela época.

Gregórios tem curadoria e conceito de Joãozito (in memorian), Lanussi Pasquali e Carla Zollinger, com cenografia de Renata Mota e textos de Raul Moreira, com produção da Multi Planejamento Cultural.

Quintas Gregorianas – O caráter libertário e revolucionário do Boca de Brasa acabou originando um evento, igualmente provocador, que se integra à programação da exposição, o Quintas Gregorianas. Com a proposta de fundir a poesia com outras linguagens para dar voz às minorias e tratar de temas sensíveis através da arte, o projeto – atualmente mensal – já trouxe para Galeria da Cidade artistas como as atrizes Thais Alves e Márcia Andrade, os atores Ricardo Bitencourt e Licurgo, a cantora Rebeca Matta, o músico Leonardo Bittencourt, o grupo Sarau da Onça, a poeta e MC Amanda Rosa, a DJ DMT, o poeta Alex Simões, o DJ e pesquisador André Oliveira, o poeta James Martins e o cineasta Caio Araujo, o coletivo Frôceta, entre outros.

“As Quintas Gregorianas tem se tornado um espaço de provocação e valorização da palavra, seja ela declamada, cantada, falada, sussurrada… No palco da exposição Gregórios, recebemos artistas e pesquisadores de diferentes vivências para que discursos múltiplos possam ser amplificados.” comenta Ana Paula Vasconcelos, sócia-diretora da Multi, responsável pela mostra.

Ao visitar a exposição, o público também poderá conferir a estátua confeccionada em fibra de vidro pelo artista plástico baiano Tati Moreno, da mesma altura que tinha Gregório de Mattos Guerra e com um dispositivo vocal que permite, a quem se aproxime, ouvir trechos de poemas na voz do ator Jackson Costa. A escultura ficará permanentemente em frente ao Teatro Gregório de Mattos, na Praça Castro Alves, em um diálogo simbólico com a estátua de Castro Alves, outro grande poeta baiano.

SERVIÇO:

Exposição GREGÓRIOS

Visitação: Quarta a domingo, das 14h às 19h

Local: Galeria do Teatro Gregório de Mattos

Entrada gratuita

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